Se minha memória estiver correta, estávamos entre 2003 a 2005.
Nessa época houve grande movimentação do setor no sentido de implantar centrais de riscos que dessem guarida às empresas de factoring, até então cansadas de serem vítimas de dezenas de cedentes articulados e “bem orientados”.
Não tínhamos como saber se esse ou aquele cedente estava tomado. Contávamos somente com o “bate do mercado”, “rezando” para conseguir informações confiáveis, o que nem sempre acontecia.
Criaram-se então, através dos principais bureaux de crédito, as “mal alimentadas” centrais de risco.
Todas tecnicamente perfeitas, visto que demonstravam, com “delay’ mínimo, o número de factorings que operavam com determinado cedente, bem como seu saldo devedor e seu histórico de liquidez.
“Mal alimentadas” porque a maioria das factorings à época, não queria “expor” suas carteiras aos bureaux de crédito, seja porque tinham preocupação com seu sigilo comercial, ou porque queriam “dar a oportunidade” de seus clientes operarem em outro lugar para resolver seus próprios imbróglios. Sim… é de cair o ___ da ____.
Diante do que chamávamos de “vôo cego”, não havia como garantir que um cedente estivesse operando com somente às factorings que dera como referência, e não incomum, dezenas de factorings “caiam” nos mesmos cedentes.
Não raro, um único cedente golpeava simultaneamente mais de cem empresas do setor, em volumes financeiros homéricos.
Sem mencionar nomes (até dá vontade), tivemos problemas com fabricantes de suplementos alimentares, fabricantes de latarias de veículos, distribuidores de ferro e aço, além de indústria de equipamentos médicos.
Os velhinhos como eu se lembrarão dos nomes mais famosos.
Pois bem! Quase vinte anos se passaram e;
Hoje temos “nojinho” em dizer que já fomos factoring, pois “evoluímos” para Securitização, FIDC´s, ESC´s e FINTECH´s.
Usamos inteligência artificial, robôs de crédito, bigdata, machine learning, assinaturas digitais, e-mails registrados e ERP´s de última geração.
Operamos recebíveis de cartão de crédito, CCB´s, Notas Comerciais, duplicatas escriturais e até contratos de fornecimento. Que venha a tokenização!
Alugamos as “barrigas” das SCD´s para “bancarizar” nossos processos e melhorar o que se chama de “a experiência do cliente”.
Ganhamos, no mínimo, uma premiação “Great Place to Work”, ou seja, quase 100% dos nossos colaboradores são “engajados”.
Participamos de marketPlaces, plataformas de risco sacado, congressos, convenções e simpósios, mas mesmo assim:
Ainda vemos trinta, quarenta, cinquenta, cem empresas do setor “caindo” nos mesmos cedentes.
A diferença de hoje para vinte anos atrás, é que lá não sabíamos onde estávamos nos metendo, pelo menos na maioria dos casos.
Hoje nos metemos, mesmo sabendo.
Boa sorte!