Quem entre nós não gostaria de ter um ou dois “Jarvis” analisando crédito de micro, pequenas, médias e até grandes empresas-clientes?
Quando eu atuava no banco, o mais próximo disso era um computador com monitor “fósforo-verde”, da marca SCOPUS, cujo programinha em “Basic” reunia várias informações dos clientes e nos dava, depois de alguns segundos de processamento, o que poderia se chamar de “parecer de crédito”.
Pronto!!! Entreguei minha idade….
À época, o que mais nos surpreendeu com o tal “computadorzinho”, nem foi a exatidão dos seus pareceres, mas a velocidade e ganho de tempo com que tomávamos nossas decisões.
Horas de trabalho com levantamentos, cálculos e análises foram reduzidos significativamente, pois os cálculos e análises foram “assumidos” por nosso amiguinho verde, ficando as tarefas de levantamento de informações ainda a cargo da equipe.
O tal “sisteminha” programado em Basic foi “traduzido” posteriormente para Cobol e passou a “rodar” no mainframe de grande porte, atendendo mais de trezentas agências bancárias, cem por cento integradas em rede.
Pois é.
Inteligências artificiais e robôs de crédito não são ferramentas tão jovens assim.
Ocorre que com sua evolução, aquela tarefinha que ainda era executada pela equipe (“levantamento de informações”), também foi assumida pelo “amiguinho verde”, reduzindo ainda mais os custos e aumentando exponencialmente a produtividade das áreas gestoras de crédito, seja em instituições financeiras, adquirentes de recebíveis ou, mais recentemente, as fintechs de crédito.
Tenho plena convicção de que a utilização de tais ferramentas alavanca nossa produtividade, com significativa redução de custos e melhoria da qualidade de nossas decisões.
Algoritmos desenvolvidos em linguagens de última geração tem sido sistematicamente utilizados em processos cada vez mais complexos, onde inclusive a capacidade de “auto-aprendizado da máquina” já é uma realidade.
Mas isso é assunto para os experts da tecnologia, e não para um simples analista de crédito como eu.
Por outro lado, é importante compartilhar com os leitores, um pouco da experiência que conseguimos reunir durante todos os anos com os quais vivenciamos experiências de forte evolução tecnológica aplicada ao setor.
Cinco são as premissas fundamentais para que qualquer nova tecnologia seja implementada como auxiliar na tomada de decisões de crédito:
- Reconhecimento de que a tecnologia “sozinha” não “salva a vida” de ninguém.
- Profundo conhecimento do mercado tomador.
- Políticas de crédito estabelecidas de acordo com a realidade do seu mercado, o seu “apetite” para o risco e as condições macro-econômicas.
- Processos estabelecidos, padronizados e formalizados de acordo com as políticas definidas.
- Cultura da 3ª (terceira) via.
Tá bom, Rogério. Da primeira à quarta premissa, não tem nada de novidade, mas o que seria a tal da “Cultura da 3ª via?”
Eu diria que a cultura da 3ª via nada mais é do que o fator humano no processo, o feeling, a experiência acumulada, a capacidade de encontrar um caminho alternativo, a improvisação, a inovação e mesmo a criação de novos rumos, ou seja, características inerentes (por enquanto) aos seres humanos e, melhor ainda, ao colegiado de seres humanos (comitê).
Lembrem-se que robôs e inteligências artificiais precisam ser “ensinados” a criar um determinado padrão de análise, e que os golpistas de plantão “trabalham” incansavelmente para descobrir e sabotar o tal padrão.
Olhem a importância dos gerentes de conta, dos analistas e do comitê de crédito no processo, ou seja, aqueles que encontram nossa 3ª via, seja por conta de um detalhe em uma visita, ou qualquer informação extra que o robô não foi “ensinado” a procurar ou analisar.
Portanto, caros leitores, até que o Tony Stark nos empreste o Jarvis ou o Ultron, devemos sim aderir as novas tecnologias disponíveis para reduzirmos custos, ganharmos tempo e escala, mas sem abrir mão do fator humano, nunca.
Boa sorte.