Às vezes vejo empresários do setor de recebíveis afirmando aos quatro ventos que o seu volume de operações tem crescido, em termos reais, trinta a cinquenta por cento anuais.

        Nada mal quando tais crescimentos são consequência direta de estratégias de marketing e ação de vendas bem planejadas e competentes.

        Preocupa-me, por outro lado, crescimentos alavancados por afrouxamento em políticas de crédito ou o que chamo de “atalhos”.

        Levando em conta que nosso desempenho está intimamente ligado ao nível de atividade econômica, e que o acumulado do PIB nos últimos dez anos é de apenas 1,38%, quando combinamos tal informação ao fato de que a oferta de crédito tem aumentado significativamente no mesmo período, é no mínimo “estranho” crescimentos “meteóricos” nesse ambiente macroeconômico.

        Alie-se a isso a relativa “facilidade” com que debêntures e cotas de fundos são emitidos para captar recursos de terceiros.

        Nem mensuro o “efeito pandemia”, pois o mesmo já está contemplado no acumulado do nosso ínfimo PIB.

        Repito que é sim plausível obter crescimentos reais significativos quando a empresa de crédito dispõe de uma área comercial competente, ativa e sintonizada com as políticas de crédito, sejam elas mais ou menos conservadoras.

        Por outro lado, entendo que o empresário do setor deve ter como preocupação (tanto quanto seu crescimento) a “qualidade” dos seus ativos.

        Não adianta crescer 50%, 60%, 70% ao ano se metade dos seus ativos forem compostos por ações de execução, títulos “podres” ou mesmo imobilizados de baixa liquidez.

        Daí a importância em mensurar e avaliar a qualidade dos seus ativos como rotina ininterrupta de compliance.

        Ações de correção só podem ser implementadas, seja na área de crédito ou na área comercial, caso eventuais inconformidades sejam detectadas rapidamente.

        Lembre-se que o “dono” é sempre o principal agente comercial de uma gestora de recebíveis, e o “encantamento” pelo crescimento exponencial é, invariavelmente, sua única bússola, e às vezes uma grande armadilha.

        Boa sorte.

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Rogério Castelo Branco

28 anos de carreira em gestão de recebíveis.

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