Adoro assistir aos “gurus” da tecnologia (principalmente do nosso setor), falando sobre “processos disruptivos” que revolucionarão o fomento comercial, bem como o mercado de crédito, em geral.
Quero lembrar que sim, sou 100% adepto da tecnologia aplicada ao fomento comercial, bem como a qualquer atividade de nossas vidas. Trata-se de evolução natural do ser humano.
Fazer “vista grossa” aos avanços tecnológicos é meio caminho para o fracasso, em qualquer atividade.
No entanto, temo pelo foco exclusivo nos “aparatos tecnológicos” que hoje temos à disposição, em detrimento dos processos equivocados que realmente deveriam ser “interrompidos” para a perpetuação das empresas do setor.
Segundo o “Aurélio”, disrupção significa “o ato de romper, de interromper o curso natural de; ruptura, rompimento”.
Exemplificando:
Criamos disruptura operacional e jurídica ao substituir o fomento à matéria prima por empréstimos via CCB´s.
Criamos disruptura comercial ao nos apresentarmos como “Bancos”, sem que necessariamente sejamos. (Há de se colocar a mão na consciência).
Criamos disrupturas fiscal, operacional e patrimonial ao migrarmos de factorings para securitizadoras, fidc´s, esc´s e scd´s.
Criamos disrupturas operacionais ao migrarmos da duplicata de gaveta para o tal “boleto especial” e, posteriormente para as atuais contas Escrow.
Criamos disrupturas ao oferecer “Baas” e “Faas” aos nossos clientes, agregando serviços e diversificando receitas.
Criamos disrupturas produtivas ao otimizar, qualificar e escalar nossos processos creditícios com a utilização de Big Datas, Machine Learns e Robôs de Crédito.
Mais recentemente criamos disrupturas institucionais, fundando associações dissidentes, face a incompetência, inércia e arrogância das antigas.
Por outro lado:
Em minha humilde opinião, as verdadeiras disrupturas não aconteceram ainda.
E confesso que não tenho esperanças que aconteçam.
Isso porque:
Disruptura de verdade é um comitê de crédito soberano sobre o parecer do “dono”.
Disruptura de verdade é um gerente comercial com plano de carreira e PLR ao invés do conveniente “fixo mais comissão”.
Disruptura de verdade são todas as empresas do setor alimentando fielmente as centrais de risco dos Bureaux de Crédito e Big Data.
Disruptura de verdade são consultorias financeiras saneando empresas e não promovendo calotes em RJ´s fraudulentas.
Disruptura de verdade é a área comercial “falando a mesma língua” do crédito, e vice-versa.
Disruptura de verdade é precificar adequadamente suas operações, “fugindo” de leilões reversos.
Disruptura de verdade são empresas do setor “fugindo” de cedentes operando com “ilimitadas” securitizadoras, fidc´s, factorings, etc.
Disruptura de verdade são políticas de crédito “no papel”, alçadas bem definidas, tolerâncias contempladas nos manuais e os donos “curtindo a praia”, de preferência longe das decisões de crédito.
Disruptura de verdade são “donos” envolvidos com a estratégia e não com a operaçãozinha “de R$ 10 mil”.
Disruptura de verdade são TODAS as empresas do setor filiando-se a sua entidade representativa, participando das decisões, criando network e colaborando com o que puder para a melhoria do ambiente de negócios, ao invés de ficarem só reclamando.
Disruptura de verdade são nossas instituições promovendo o setor “de dentro para fora”, e não “de dentro para dentro”, como acontece hoje, substituindo simpósios, congressos e eventos de “cartolas” (jovens e velhos), por premiações de boas práticas, tendo como expectadores as entidades que representem os nossos clientes, os colaboradores do setor, o “ecossistema” jurídico, entidades políticas, além, é claro, do grande público.
Enfim, todas as mudanças que hoje chamamos de “disruptivas”, nada mais são do que fazer coisas velhas de novas maneiras.
A verdadeira atitude disruptiva exige, antes de qualquer coisa, muita coragem.
Boa sorte!